terça-feira, 8 de abril de 2008

Placebo.

É um placebo, não é? Não ocorre efeito nenhum.
E já agora, o que deveria fazer em mim?
Exaltar-me mais ainda, ou acalmar-me? Suponho que seja para me acalmar. É o que todos precisam, segundo alguém que se julga com autoridade para tal.
Aquele senhor ali (que observo pela janela) acabou de deixar cair a sua pasta.
Folhas a voar ao sabor do vento tempestuoso, vento este curiosamente coerente com o carácter tempestuoso que ele mostra agora. Já não conseguiu apanhá-las todas, algumas fugiram.. Talvez a sua vida tenha sido levada pelo vento neste momento, só apenas ele o sabe. Mas quem o vir no meio do alcatrão, a gesticular furiosamente por todos os lados, a suar raiva e descontentamento contra os edifícios e contra a civilização, vai pensar:
- Pobre homem.
- Esta gente anda toda doida.
- Coitado, deve ter muitos problemas. Devia acalmar-se e ir a um médico.
Porque é que de nós exigem que nos mantenhamos mansos e inquietos? O mínimo sinal de revolta é interpretado como uma pequena bomba que pode explodir no raio de "mais do que aquele pobre coitado", pensam eles. O brasão da sociedade é cada vez menos composto por pombas e estrelas, e mais guarnecido de armas..onde foram a entre-ajuda, o consolo? Talvez o Prozac me ajude a encontrá-las, mas parece que foram substituídas pelo desejo do protagonismo, pela vitória cruel e pelas pontas afiadas da tesoura com que chacinamos o futuro dos outros, que desprezamos por não conhecer.
É isso que faz com que o Prozac venha à baila.
Entretanto, o indivíduo conseguiu apanhar as folhas todas. Afinal ficou tudo na mesma. E a montanha pariu um rato. E (na onda do cliché) fez-se uma tempestade num copo de água. Agora que o transeunte comum entendeu o porquê da reacção desestabilizada do indivíduo, tolera. Mas quando o desconhecia, criticava e censurava.
Só toleramos aquilo que conhecemos, mesmo que seja perfeitamente semelhante ao que não conhecemos.
Vou comprar um lote de comprimidos e tomá-los com álcool. Pode ser que o corpo tolere mais facilmente o que desconhece, embora a mente desrespeite tudo o que é natural, justamente por ser a mente, e não a ovelha mansa que pasta no prado e não evolui. Há sempre conceitos novos que levam a ovelha a conhecer o mundo e a reagir de maneira diferente. Mas ainda assim, creio que às vezes é bom pensar que, embora primitivo, o simples pasto nos serve de consolo às agruras do modernismo.
Ahh..

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